"Determinação é não dar fim ao movimento em frente. Defrontando-se
com a resistência dos outros e encarando os testes internos das fraquezas, ainda
não completamente curadas, o sábio pode determinar seu próprio destino
escolhido. Nada nem ninguém poderá pará-lo. Força nunca é usada para dominar.
Ao contrário, conversa paciente e persuasão inteligente são os instrumentos
cirúrgicos da determinação ".
Brahma Kumaris
Escreva porque você
tem tendência para escrever.
E se não fizer sua
natura vai se revoltar contra você,
Tô falando como
psiquiatra e não como amigo.
L.G.R.M.
Hoje é um dia de segunda-feira, uma segunda-feira
qualquer de um inverno agonizante com o sol lindo que fez – e que há de se
vingar em agosto, pois estamos no penúltimo dia de um julho de 2012. É uma segunda-feira
que seria chata, enfadonha e arrastada como qualquer outra, não fosse essa angústia
que me corrói, lembrança que me dói ao trazer à tona a memória de tantos
conselhos pra que escrevesse.
Desde já, vou começar pelo estranho. Estranhamente
faço agradecimentos no início – porque, afinal, esse não é um texto comum e sim
fruto, ou quem sabe espinho, da terapia (pra quem não sabe, há quase um ano
embrenhei pela Experiência Somática (Somatic
Expirience – SE, criada pelo Peter Levine). Disse fruto ou espinho, mas
penso que as analogias de caminho ou encruzilhada descreva até melhor. Explico:
atualmente o terapeuta é junguiano e também formado na SE, daí o cruzamento –
corpo e símbolos. Os agradecimentos vão, em primeiro lugar, para Luisinho –
Luis Germano Ribeiro Machado, autor da 2ª epígrafe acima. Mas também ao seu
pai, Germano Machado, meu mentor, quem vivia me provocando pra que o fizesse,
mas achava-me demasiado inseguro para tal. A Ricardo Soares, quem até já concebeu
uma coletânea de contos pra falar das dezenas de mudanças que fiz. Vida de
eremita urbano é isso aí. E ainda, pra não ser injusto, agradeço a Reinaldo
Pamponet a provocação – dizia q’eu devia escrever pra botar pra fora minha
inte... essa palavrinha que nem ouso dizer o nome.
No domingo antepassado Carliane Cordeiro foi quem
deu a deixa, se disse emocionada com o escrito pro Dia do Amigo (embora meu
amigo, inspirador, jacente nas entrelinhas nem tenha lido e/ou comentado).
Levei a inquietação à terapia pensando o seguinte: deixei de escrever pra
cuidar da vida prática, da sobrevivência. Não caberia ao filho de proletários
divagar em textos enquanto não tivesse o que comer, beber, vestir, água, luz,
impostos... Depois, veio a universidade. Mas aí... afinal, na academia não é
recomendável que discentes escrevam bem. A amiga Flávia Telles o fez e levou
uma bronca do professor de Metodologia Científica. Buemba, buemba! Chama o
Simão, urgente, pra ele pingar colírio alucinógeno nas teclas e enlouquecer a máquina
datilográfica. Assim a tecla sobe, ah, ha. Mas, então, se deixei de lado a
escrita pra sobreviver e mesmo assim não tô conseguindo bem, é melhor retornar
ao que sou, me virar em textos, pois, quem sabe assim sobreviva melhor? ! (Uma
dedução lógica é que a gente sobrevive melhor quando trabalha com o que é
abundante em nós).
Devo agradecimentos também às mulheres especiais
que mais que influenciarem minha vida, foram e são, a vida inspirada em mim. Graciela, quem
me cedeu espaço nas orelhas do seu Gaia
Poiesis – o que foi honroso e marcante.
Sarah, ápice de amor vivido, que se faz própria em palavras. A Debe
que elogiava meus e-mails mas não
permanecemos no mesmo meio. Luba, escritora em carne viva, que virou água e
bebeu a mim. Liti por quem platonizei algumas mensagens. E a Pleta, pois
escrevemos alguns insignes rascunhos, já que o amor não é acabado. Mesmo a
Lili, então estudante de Letras, quem disse que não escreveria mais pra mim,
porque eu escrevia bem demais (acho que as lentes dela estavam trocadas), c’est la vie. Também a Helô Costa e
Leila Rocha quem me apontaram a vocação de escrever projetos. Dulce, a quem o amor se elevou como àrvore alta e os frutos não podem ser colhidos.Fernanda Parente,
amiga-irmã e sócia, vive provocando que a gente rediga As personagens que Jorge não escreveu. E, por último, mas primeira,
à Mamãe – que nos estimulava a escrever cartas pra participar de promoções nas
emissoras de TV – a acho que nunca o fizemos.
Ah, além da deixa de Carli, ouvir Perfil de Gonzaguinha agora à noite estimula
a inspiração. Pois é, há um quê de gratidão também a Saja – em palestra na
Eletrocooperativa, disse “a arte, meu amigo, tem a ver com cura”. E aqui estou,
me virando em textos pra ficar curado. Embora receoso do que possa botar pra
fora. Porque se de poeta, médico, filósofo e louco todos têm um pouco, digo que
de profeta também. Mas não quero ir de
encontro ao azar. Afinal, nesse nosso País de golpe de estado eminente –
quando policiais federais são assassinados porque cumpriram o dever de
investigar e indiciar criminosos, é melhor guardar a língua na boca, viver sob
a (tácita) lei do silêncio.
Depois, outro obstáculo que me impunha,
corroborando com a primeira epígrafe, era alegar o alto percentual de
analfabetismo e não leitores nessas plagas de Adonias Filho, Jorge Amado e João
Ubaldo. Afinal, essa Terra da Felicidade,
mãe Medeia, parece ter inspirado os versos do Guerreiro Menino Gonzaga:
Você deve
estampar sempre um ar de alegria
E dizer:
tudo tem melhorado (...)
Você merece,
você merece, tudo vai bem, tudo legal
Cerveja,
samba e amanhã, Seu Zé , se acabarem com seu carnaval
Você merece,
você merece (...)
Um diploma
de bem comportado
Mas não fui nem sou.
Gostaria até de ser, doeria menos. Sofreria menos. Daria menos murro em ponta
de faca, bateria menos cabeça.
Pois é. E fico por aqui. Esse texto virado é só um
prólogo. Daqui em diante, me virarei para vir a ser, escrevendo.
Salvador, 30.VII.2012